Champagne talvez seja o vinho mais gastronômico por seu ecletismo. Tem boa acidez, álcool comedido, e não se sobrepõe aos pratos, mantendo revigorado o paladar. Os dois senões são: carnes vermelhas e comidas rústicas, pesadas, já que trata-se de um vinho com certa aristocracia. Num almoço oferecido por um grande amigo, pudemos comprovar mais uma vez esta versatilidade.
Cuvées numeradas
É bem verdade, que tratava-se de um champagne acima da média, o espetacular Jacquesson Extra-Brut Cuvée 738. Esta cuvée baseia-se no ano de 2010, sendo que 33% do blend são vinhos de reserva. Na sua composição, temos 61% de Chardonnay, fornecendo elegância, 39% entre Pinot Noir e Pinot Meunier, proporcionando estrutura ao conjunto. O resultado é um champagne de grande frescor, cremoso, profundo e muito persistente. Acompanhou muito bem as entradas de funghi e patinhas de caranguejo com molho tártaro. E se quiséssemos, podia ir mais longe à mesa.
vinho com muita história
O vinho acima apesar de muita tradição, só foi promovido a Grand Cru em 1981. Sua história começa no século quatorze onde monges beneditinos cultivavam vinhas numa parcela chamada “Cloux des Lambrey”. Durante a revolução francesa as terras foram divididas em 74 proprietários. Com o tempo, a propriedade volta a um domínio familiar sendo que em 1996, o casal Günter e Ruth Freund assume o domaine com muitos investimentos no vinhedo.
Clos des Lambrays é constituído de 8,7 hectares, propriedade grande para padrões borgonheses. Suas vinhas têm em média 40 anos com alta densidade de 10 a 12 mil pés/hectare e rendimento de 30 hectolitros/hectare. Nessas dimensões, o terroir é dividido em três partes: meix rentier, les larrets e les bouchots. O primeiro são terras mais argilosas e pesadas. O segundo tem excelente exposição solar e drenagem, enquanto que o terceiro é bem protegido dos ventos do norte. Neste contexto, combina-se finesse, elegância, com estrutura e corpo.
A produção é grande para um Grand Cru, entre 30 e 40 mil garrafas por safra. A vinificação envolve uma boa extração com trabalho constante de pigeage. O amadurecimento dá-se em barricas de carvalho por dezoito meses, sendo metade novas.
Codorna: um clássico para borgonhas
Babette já mostrava o caminho: codorna com Clos de Vougeot. Quem sou eu para contraria-la! Esta da foto acima preparada no forno, acompanhada de arroz puxado no próprio molho é um clássico do restaurante Tatini, fundado em 1954. Continua em plena atividade como os tradicionais “concorrentes” La Casserole e Freddy. Seu atendimento com os réchauds pelo salão é um espetáculo à parte. Fruto do trabalho sem tréguas de Mário Tatini, patriarca e alma deste restaurante, moldou uma geração de garçons à sua maneira, ampliando muito seus conhecimentos à mesa e não apenas, em servir e retirar pratos. Seu filho Frabizio, dá prosseguimento à saga com conhecimento e elegância.
Voltando ao tinto, a harmonização comprovou-se muito boa. A delicadeza da codorna com ervas casou perfeitamente com a elegância do vinho. Seus aromas terciários, além das especiarias, alcaçuz e sous-bois foram de encontro aos sabores do prato. Tinto de bom corpo, taninos macios e final persistente. Bom momento para ser apreciado.
Outros tintos do domaine são um Premier Cru Les Loups e um comunal Morey-St-Denis, perfazendo em média quinze mil garrafas por safra. Evidentemente, são cuvées que não estão à altura de um Grand Cru. Além disso, o domaine elabora um Fine des Lambrays no mesmo processo feito em Cognac. “Fine” é o brandy mais sofisticado da Borgonha. Envelhece por sete anos em carvalho da floresta de Tronçais. É engarrafado sem redução de álcool com graduação de 49° graus. São pequenas partidas de vinho, próprias para destilação. Os vinhos são trazidos pela importadora Grand Cru (www.grandcru.com.br).
Enfim, quando Champagne e Bourgogne estão à mesa, a companhia e a comida devem estar à altura. E estavam …
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