Dos muitos ditados sobre vinhos, um dos mais ilusórios é o que diz: “Vinho, quanto mais velho, melhor”. Na prática, isso vale para cerca de dois porcento dos vinhos produzidos no planeta. Poucos passam dos dez anos em plena forma, sem sinais de declínio. Portanto, quando nos deparamos com essas raridades, vale a pena comentá-las.
Didier Dagueneau Silex 2005
Morto há poucos anos em um acidente de ultraleve, Didier Dagueneau foi um dos mais talentosos vinicultores do Loire, notadamente da apelação Pouilly-Fumé, que ele fazia questão de nominá-la Blanc Fumé de Pouilly. Sua cuvée Silex faz menção a um dos famosos terroirs da apelação com solo pedregoso de nome homônimo. Apesar de seus oito anos de safra, a fruta delicada estava bem presente, envolta num mineralidade extremamente elegante. O equilíbrio é seu ponto alto, com final persistente, harmônico e em plena forma. Vinhas antigas, uma grande safra e um vinicultor brilhante, geralmente culminam nestas maravilhas.
Vega-Sicilia Valbuena 5º Año 1999
Este é um daqueles segundos vinhos que só dignifica o grand vin que está por trás. Geralmente, são vinhas mais jovens, partidas que não estão à altura do grande Vega, pois a exigência é cruel. Mas é com este rigor, que grandes nomes são feitos, mesmo em seus exemplares mais humildes. Nesta safra, foram mescladas as uvas Tempranillo (80%), Merlot e Malbec (20%). Seu amadurecimento em madeira, extremamente peculiar, deu-se com cinco meses em tonéis de 20.000 litros, seguido em barricas novas de carvalho americano e francês por dezesseis meses, e voltando aos tonéis até o ano de 2002, antes do engarrafamento. Só começou a ser comercializado em 2004.
Esta amosta, com seus catorze anos de safra, diga-se de passagem, não foi uma grande safra, não mostrou sinais da idade. Aliás, esta é uma marca registrada da bodega Vega-Sicilia. Nunca tente adivinhar um Vega pela cor. Deve haver alguma magia no amadurecimento longo em madeira. Voltando à cor, ainda tinha traços violáceos. Os aromas finos mesclavam com maestria fruta e madeira num final balsâmico. Novamente, o equilíbrio de boca notável. Nada era muito potente, mas extremamente fino.
Henri Gouges Nuits-St-Georges Premier Cru Clos des Porrets 1998
Para muitos, guardar borgonhas tintos pode ser uma temeridade. São muito frágeis, delicados e com pouca estrutura tânica. Porém, nunca duvide de um Nuits-St-Georges, principalmente um Henri Gouges. Este exemplar com uma cor impressionante tinha taninos de um autêntico Barolo. Firme, musculoso e profundo. Seus aromas terrosos, de cerejas escuras e alcaçuz eram os mais destacados. Grande equilíbrio e persistência, mostrando outras facetas da Pinot Noir.
Sedimentos deixados pelo tempo
Pela foto acima, não há como deixar de decantar um vinho desses. Mais um contradição para aqueles que dizem que borgonhas não se decantam. Produtores e terroirs diferenciados nunca seguem regras. Eles caminham longe da padronização, por isso são únicos.
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11 de Abril de 2013 às 11:59 AM |
Interessantíssimos comentários. Valeu Mestre Nelson
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11 de Abril de 2013 às 12:06 PM |
Grande Ruy,
Obrigado por prestigiar Vinho Sem Segredo.
Nos vemos qualquer hora.
Abraços,
Nelson
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12 de Abril de 2013 às 9:45 AM |
Dr. Nelson, sabe que esse post me fez querer ler um texto do senhor sobre os segundos grandes vinhos, que não são apenas uma primazia bordalesa, mas de algumas grandes vinícolas espalhadas pelo mundo, como o caso da Vega. Quais outros valem à pena? Aliás, quais grandes safras do Valbueña o senhor destacaria, pq no exterior ele sai 6 vezes mais barato que o grande Vega?
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12 de Abril de 2013 às 11:04 AM |
Caro Roberto,
Pessoalmente, segundos vinhos devem ser encarados a princípio, como refugos do primeiro vinho. Existem algumas exceções em Bordeaux como Latour, Las Cases e Montrose. No caso espanhol, o grande Vega.
Os verdadeiros segundos vinhos são aqueles que aparecem em certos anos onde não são produzidos os primeiros. É o caso do Barca Velha e os grandes LBVs não filtrados (Noval).
As safras recentes do Valbuena 2001 e 2004 são ótimas.Contudo, dificilmente ele decepciona.
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15 de Abril de 2013 às 11:31 PM |
Nelson
Muito interessantes os seus comentários. Sempre aprendo alguma mais ao lê-los.
Abço
Sylvio
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16 de Abril de 2013 às 12:01 AM |
Olá Sylvio,
Seu Pommard e este Henri Gouges são grandes vinhos. Saudades da VVW!
Um abraço,
Nelson
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