Há pratos que nos deixam em dúvida quanto à harmonização. É bem verdade que para um determinado prato, cabe uma série de vinhos bem escolhidos, os quais proporcionarão sensações diferentes. Foi o que ocorreu neste embate com os vinhos abaixo, acompanhando um pappardelle ao molho de funghi porcini, guarnecido com frango ao forno com mostarda em grão e salvia.
localização privilegiada
O exemplar acima trazido pelo especialista e amigo Roberto Rockmann, foi pinçado num vinhedo Premier Cru (Les Petits Vougeots) cercado por alguns astros de primeira grandeza como Musigny, Les Amoureuses e Clos de Vougeot. Delicado, elegante, taninos bem moldados e madeira quase imperceptível, na medida justa. Buscou enaltecer o lado mais sutil do prato com toques de sous-bois e florais.
Chinon de vinhedo na bela safra 2005
O tinto acima trata-se de um vinhedo específico do produtor Couly-Dutheil chamado Clos de L´Olive na ótima safra 2005. A apelação Chinon trabalha com a temperamental Cabernet Franc em latitudes limites para seu bom amadurecimento. Aqui o corpo do vinho e sua estrutura tânica privilegiaram mais a textura tanto da massa, como do prato. O sabor do funghi e os toques de mostarda e salvia, também tiveram boa sintonia com o vinho que por sua vez, apresentava aromas terrosos, herbáceos e de especiarias, notadamente a pimenta. Enfim, a preferência é uma questão de gosto. Muito provavelmente, se degustados isoladamente, não deixariam as dúvidas criadas pela situação exposta.
pappardelle ao molho de funghi porcini
Encerrando a refeição, tivemos uma tábua de queijos nacionais bem frescos, trazidos direto do produtor (Serra das Antas) com destaque para o Camenbert, Pont L´eveque e Taleggio, nesta ordem crescente de sabores. Para acompanhar os queijos, tivemos damascos, figos secos, e o original Vinsanto grego da ilha de Santorini. Este exemplar da safra 2004 é elaborado com a uva autóctone Assyrtiko de grande acidez e mineralidade. As parreiras plantadas em forma de cesto num solo vulcânico têm mais de sessenta anos, gerando vinhos de grande concentração e profundidade. Seus apenas 9º (nove graus) de álcool e ótima acidez foram contrabalançados por quase 300 g/l (trezentos gramas por litro) de açúcar residual. Aromático, denso e persistente.
Vinsanto: Os italianos o chamavan de Vin Pretto
torta de limão
A sobremesa acima é outra bela combinação com este Vinsanto grego. A acidez do vinho e seu açúcar residual garantem a força do prato, além das texturas, sabores e corpo de ambos estarem sintonizados.
Como ninguém é de ferro, o gran finale já fora da mesa, ficou para os puros abaixo, Partagas Lusitanias, um dos mais cultuados clássicos de Havana. A pegada, força, e potência desta marca é emblemática. No formato double corona, o primeiro terço começa com uma traiçoeira suavidade que vai intensificando-se sem que você perceba, feito uma sucuri que vai lentamente asfixiando a vítima. Pronto, você está enrolado. Um final de terço inesquecível onde só os destilados nobres podem ombreá-lo.
Partagas Lusitanias: double corona de raça
O primeiro destilado foi o ótimo Knockando (em gaélico quer dizer pequena colina negra) 12 anos da safra 2002. Normalmente, essas indicações de idade referem-se a uma mistura de partidas (solera) onde a idade mais jovem do blend tem o numero de anos indicado. Este Malt Whisky de Speyside é macio, de boa presença em boca e o característico fundo de mel e ervas. Como curiosidade, este malt whisky faz parte do conhecido blended Scotch J&B (Justerini & Brooks).
Single Malt de safra
O segundo destilado trata-se de um rum agrícola envelhecido da ilha de Martinica. O termo agrícola refere-se ao rum obtido somente com o calda da cana de açúcar, e não o melaço. Este V.S.O.P. envelhece quatro anos em madeira, sendo um ano em madeira francesa de Limousin (a mesma floresta para madeira do Cognac), e três anos em madeira americana de Bourbon Whiskey (Kentucky). Bebida de bom corpo, marcante, e persistente. Foi bem no terço final.
Os velhos runs do Caribe
Vinhos diferentes, saindo do trivial, e destilados distintos cumprindo o mesmo papel no acompanhamento de puros. Tudo no seu devido tempo e sem conflitos entremeando os pratos. A mesa e o copo agradecem.
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