Dando prosseguimento às famosas denominações DAC (Districtus Austriae Controllatus), deixamos as três últimas mais emblemáticas para este artigo (Kremstal DAC, Kamptal DAC e Neusiedlersee DAC), as quais serão esplanadas abaixo:
Kamptal e Kremstal: Reino da Gruner Veltliner
Kremstal DAC
Os 2243 hectares de vinhas desta nobre área dividem-se em dois tipos de solos: um solo sedimentar com a formação de loess (solo formado sob a ação do vento) de boa capacidade hídrica, ideal para o cultivo da Gruner Veltliner, além de solos rochosos, propícios para o bom desenvolvimento da Riesling. Os profundos vales são bem protegidos dos gélidos ventos do norte, enquanto a leste, o clima quente da Panônia facilita a maturação das uvas.
As duas uvas são apresentadas nas versões Classic e Reserve, sendo a primeira para vinhos aromáticos, frescos, sem notas de madeira. A versão Reserve apresenta vinhos mais encorpados, ricos, com alguma presença de madeira e eventuais toques de Botrytis.
Kamptal: vinhedos em terraços
Kamptal DAC
Região imediatamente a norte de Kremstal com 3.800 hectares de vinhas. As estrelas também são as mesmas de Kremstal, as uvas Gruner Veltliner e Riesling nos estilos Classic e Reserve.
Muitos dos vinhedos desenvolvem-se em terraços combinando solos de gneisse (origem vulcânica), sandstone (origem sedimentar), loess e gravel, de origem vulcânica e sedimentar. O clima mescla os ventos frios do norte com o clima quente da Panônia, proporcionando notável amplitude térmica. Com esses fatores, temos rieslings potentes, minerais e de grande longevidade. Da mesma forma, a Gruner Veltliner mostrar vinhos encorpados e de bom impacto. Essas características ficam potencializadas no estilo Reserve.
Neusiedlersee: Lago raso rodeado de juncos
Neusiedlersee DAC
Finalmente, temos o lar da outra grande uva tinta austríaca, Zweigelt. Como varietal ou blend (mistura), desde que tenha pelo menos sessenta por cento no corte juntamente com outras uvas nativas. Fruto do cruzamento das cepas Blaufränkisch e St Laurent, a Zweigelt gera vinhos coloridos, taninos suaves e aromas intensos de frutas, notadamente as cerejas. O estilo Classic preserva o lado frutado e de especiarias destes tintos maturados em aço inox, ou eventualmente, com alguma passagem por madeira. Já o estilo Reserve, mostra vinhos mais potentes, estruturados com madeira mais evidente (grandes tonéis ou barricas).
Dos 7.649 hectares de vinhas, 1.812 hectares são destinados ao cultivo da uva tinta acima (Zweigelt). O restante é destinado sobretudo a uvas brancas como Chardonnay, Pinot Blanc e Welschriesling (Riesling Itálico). Esta última, é a uva branca mais plantada na Áustria, depois da emblemática Gruner Veltliner. Os solos franco-arenosos, calcários e eventualmente pedregosos, aliados a um clima relativamente quente oriundo da Panônia (vale), produz uvas bastante aromáticas. A pouca profundidade do lago Neusiedl e sua grande extensão propiciam a necessária evaporação para o bom desenvolvimento do fungo Botrytis Cinerea (podridão nobre). Neste particular, esse lago é reduto do local mais certeiro para vinhos botrytrisados. Vale lembrar que a ocorrência e intensidade da infecção do fungo em regiões clássicas como Sauternes, Tokaj, alguns lugares do Loire e da Alemanha, é sempre incerta e motivo de grande preocupação. Portanto, Neusiedlersee ainda é fonte segura e presente em todas as safras de ótimos vinhos botrytisados a preços ainda atrativos. As versões Beerenauslese e Trockenbeerenauslese respondem por este tipo de vinho.
Com este artigo, chegamos ao fim desta série. Oportunamente, voltaremos ao assunto sempre que esses vinhos, uvas ou harmonizações específicas fizerem-se necessários. Os artigos desta série específica foram baseados no site http://www.austrianwine.com
Apesar da pouca oferta de vinhos austríacos no Brasil, a importadora Mistral traz alguns exemplares (www.mistral.com.br) e também uma importadora pouco conhecida chamada Vinhos da Áustria (www.vinhosdaaustria.com.br).
Lembrete: Vinho Sem Segredo na Radio Bandeirantes (FM 90,9) às terças e quintas-feiras. Pela manhã, no programa Manhã Bandeirantes e à tarde, no Jornal em Três Tempos.
Etiquetas: austrian wine, blaunfränkisch, botrytis cinerea, chardonnay, districtus austriae, grüner veltliner, jornal em três tempos, kamptal, kremstal, mistral, Nelson Luiz Pereira, neusiedlersee, panônia, pinot blanc, radio bandeirantes, riesling, riesling italico, sauternes, sommelier, st Laurent, tokaji, vinho sem segredo, vinhos da áustria, welschriesling, zweigelt
Deixe uma Resposta