Truta: Inspiração para receitas de inverno
Peixe de águas geladas, geralmente cultivados em rios e lagos de montanha, é uma das atrações no cardápio de inverno dos restaurantes, com versões clássicas como Truite Meunière.
Nossa versão em foco também é um clássico, Truite aux Amandes, que pessoalmente, é um dos meus favoritos. O importante é você preparar as amêndoas in loco. Ferva-as brevemente em água, o suficiente para soltarem a pele. Em seguida, corte-as em lâminas ou pedaços de sua preferência. Numa bandeja, elas serão colocadas no forno até tostá-las adequadamente. Pronto, você terá amendôas frescas, crocantes e sem sal, com um sabor inigualável.
A receita inclui além da truta e amêndoas, manteiga, suco de limão e salsinha, basicamente. Trata-se de um prato delicado com teores de gordura (manteiga) e acidez (limão) consideráveis. Esses fatores nos levam fatalmente a um branco, que geralmente tem delicadeza e acidez requeridas para a ocasião. Como trata-se de um peixe de rio, o sabor levemente terroso pede alguma mineralidade em relação ao vinho. Por outro lado, as amêndoas tostadas podem sugerir tanto um branco com passagem por barrica, como um branco evoluído que tenha toques minerais mais acentuados. A primeira hípótese nos leva ao clássico Chardonnay fermentado em barrica que geralmente é macio e encorpado, características conflitantes com as do prato. Portanto, o fator mineral é a alternativa mais coerente.
Chablis, Pouilly-Fumé e Riesling da Alsácia apresentam geralmente sutilezas, ótima acidez e acentuada mineralidade. As duas primeiras opções me parecem mais adequadas. Já o Riesling, pode apresentar corpo acima do prato, além da mineralidade lembrando petróleo, não ter perfeita sintonia com as amêndoas.
Por outro lado, um Chenin Blanc do vale do Loire, mais especificamente da apelação Savennières é uma bela solução, sobretudo com toques de evolução. É um vinho seco, de ótima acidez, corpo adequado, e pode desenvolver com o tempo aromas clássicos de marzipã, que evidentemente encontrarão ressonância nas amêndoas tostadas. Para os que buscam a perfeição e onde o dinheiro não é problema e sim a solução, Coulée de Serrant de Nicolas Joly é a pedida certa (www.casadoportovinhos.com.br). Só tem um detalhe: ou você espera para tomá-lo com pelo menos 10 anos de safra, ou você precisa decantá-lo com vinte e quatro horas de antecedência (conselho do próprio Joly).
Para os mortais, podemos ficar com o Savennières do Domaine Baumard importado pela Mistral (www.mistral.com.br), que é também um excelente produtor. Procure pelo Clos du Papillon, uma de suas especialidades.
Enfim, caímos no óbvio. Vinhos locais com pratos locais, ou seja, o vasto rio Loire oferece inúmeras alternativas, tanto de peixes, quanto de vinhos sob várias denominações de origem. A truta com amêndoas encaixa-se perfeitamente neste contexto.
Etiquetas: amêndoas, casa do porto, chablis, chenin blanc, Harmonização, loire, marzipã, mistral, Nelson Luiz Pereira, pouilly-fumé, riesling, savennières, sommelier, truta, tudo e nada, vinho sem segredo
Deixe uma Resposta