Separados por uma rua, os Chateaux Haut Brion e La Mission Haut Brion convivem em harmonia em Pessac-Léognan. Na verdade, existe uma briga saudável pela excelência de seus vinhos, sendo praticamente impossível dizer quem é o melhor, a não ser pelo gosto pessoal, algo bastante subjetivo.
esse branco te leva para o céu!
Para abrir os trabalhos, começamos com um par de borgonhas de tirar o fôlego. Primeiramente, o branco acima já degustado várias vezes, confirma sua excelência, Domaine d´Auvenay. Neste Puligny Premier Cru, produção de apenas 900 garrafas, uma vinificação impecável de Madame Leroy. Um branco cheio de aromas elegantes, muito bem balanceado e uma persistência sem fim. Bate muito Montrachet com folga.
vinhedo com nível de Grand Cru
O segundo vinho, trata-se de um dos vinhedos mais respeitados com Premier Cru. Juntamente com Les Amoureuses e Cros Parantoux, talvez sejam os vinhedos mais expressivos na categoria Premier Cru com nível de Grand Cru. Esse que provamos do Domaine Fourrier, é o número 5 do mapa abaixo com menos de um hectare, apenas 0,89 hectare. O maior de Armand Rousseau é o número 1 com 2,21 hectares. Sylvie Smonin 2, Louis Jadot 3, e Bruno Clair 4, completam a lista com 1,6 ha, 1 hectare, e 1 hectare, respectivamente.
Um belo exemplar não denotando a maioridade com 18 anos de vida. Um tinto ainda com muita fruta, toques de incenso e especiarias. É um belo produtor, mas num pontinho abaixo de Rousseau. Um Chambertin de respeito.
cinco produtores com a maior parcela para Rousseau
grandes garrafas
Finalmente, chegamos ao embate de gigantes com os quatro vinhos servidos às cegas nas belas safras de 89 e 90. São praticamente 400 pontos na mesa destes chateaux fora de série. Uma das degustações mais difíceis, tal o nível elevadíssimo de seus vinhos.
No flight acima, um páreo impressionante. O La Mission 89 (100 pontos) tinha características de maciez semelhante ao 90, porém com mais corpo e extrato. Dava a entender que podia ser o grande Haut Brion 89. Agora o Haut Brion 90 (98 pontos) estava magnifico. Era o vinho menos pronto do painel com certa austeridade, mas taninos finíssimos. Um vinho de longa guarda que necessita de decantação para ser apreciado no momento. Enfim, um flight às cegas muito difícil.
89 sem o brilho habitual
Neste embate, estamos comparando um vinho de 100 pontos (Haut Brion 89) com um vinho de 96 pontos (La Mission 90). Primeiramente, o La Mission estava delicioso, macio, envolvente, e muito mais acessível que seu oponente de flight. Embora o Haut Brion 89 seja um vinho irretocável com 100 pontos inconteste e um dos melhores Bordeaux das últimas décadas, esta garrafa não estava tão esplendorosa como deveria ser. Portanto, não estava tão clara sua supremacia.
Analisando os dois flights extremamente equilibrados, podemos perceber que os dois Haut Brions tem uma certa austeridade frente aos La Missons, devido à presença maior das Cabernets no corte. Os vinhos parecem mais tânicos. Já os La Missions tem maior porcentagem de Merlot no corte, proporcionando vinhos mais macios.
pratos bem executados
Alguns pratos do extenso menu do restaurante Dom se destacaram. Um peixe amazônico muito bem cozido com molho delicado e farofa, além de um prato com mix de cogumelos bastante distinto. O serviço de sommellerie impecável da sempre simpática Gabriela Monteleone.
Voltando aos vinhos, fica mais uma vez provada a enorme injustiça de colocarem apenas o Haut Brion como única exceção do Médoc na classificação de 1855. Já que é para fazer exceções, que corrigissem a injustiça de não incluir o La Mission Haut Brion na lista, um dos chateaux mais bem pontuados em toda história por Robert Parker.
Por fim, é bom frisar que estas conclusões estão longe de serem definitivas. A cada degustação, a cada desafio às cegas, as impressões podem mudar radicalmente, principalmente levando em conta o estado das garrafas em si e como elas evoluem de adega para adega com seu histórico muitas vezes incerto.
Assim é mundo do vinhos, cheio de incertezas, e poucas verdades definitivas. Como dizia o saudoso e provocador Antonio Abujamra, vamos idolatrar a dúvida!
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