Num agradável almoço pré-carnaval, algumas taças da fina flor da Borgonha desfilaram entre pratos do restaurante Bela Sintra. Produtores e vinhedos consagrados mostraram o lado mágico que os tintos da Borgonha são capazes de proporcionar.
polvo, lulas, e pasteizinhos para acompanhar …
Para iniciar os trabalhos, um Premier Cru de Meursault do ótimo produtor Comtes Lafon, foto acima. Meursault-Charmes 2010 com 95 pontos, mostra o lado mais delicado de Lafon, comparado ao vigoroso Perrières-Meursault. Finamente trabalhado na barrica, seus aromas de patisserie já encantam nas primeiras impressões olfativas. Muito equilibrado em boca, mostra um leveza singular, embora não fuja do terroir de Meursault, sempre com uma textura mais vigorosa. Alguns da mesa o acharam levemente oxidado. Particularmente o achei delicioso, a despeito de não guarda-lo por muito tempo em adega. De todo modo, um belo abre-alas do almoço.
joias da Madame Leroy
Na comissão de frente, este primeiro trio acima, mostrou indubitavelmente o alto nível dos vinhos Leroy. Nenhum deles são de Domaine. O do centro, é o único Grand Cru, Mazis-Chambertin, elaborado pelo Hospices de Beaune e devidamente educado nas adegas Leroy. Os dois que o ladeiam são lieux-dits com nível de Premier Cru, vizinhos de parede com o reputado Clos St-Jacques, conforme mapa abaixo. O vinhedo Grand Cru Mazis-Chambertin está localizado na parte baixa à esquerda do mapa, delimitado por linhas vermelhas e pretas. A distância de Mazis-Chambertin a Clos St-Jacques não chega a mil metros.
mosaico bourguignon
Lavaut-St-Jacques, um vinhedo de 9,53 hectares, com destacada proporção de calcário no solo, prima pela delicadeza e elegância. Mostrou isso na taça, com lindos terciários de sous-bois, taninos polimerizados, e o mais pronto deste trio.
Mazis-Chambertin, o preferido da maioria, tem uma acidez pronunciada, fator que lhe confere longevidade. A despeito do belo equilíbrio e finesse, já tomei garrafas melhores deste mesmo vinho. A safra 85, ponto comum deste flight, é histórica na Borgonha.
Finalmente, Estournelles St-Jacques, um vinhedo de apenas 2.04 hectares, tem um solo com presença de Ostrea Acuminata, fosseis marinhos também presentes no vinhedo Clos St-Jacques. Foi o vinho que mais impressionou pela cor e densidade. Com taninos presentes, mostrou-se o menos evoluído do painel com um caráter mais masculino.
Taças Zalto e Arroz de pato
Na foto acima com taças Zalto, percebemos pela cor que a amostra número três, à direita da foto, é a de maior concentração de cor. O arroz de pato, um dos pratos emblemáticos da Casa, acompanhou bem o Estournelles St-Jacques, pelo vigor do vinho.
todos com nível de Grand Cru
Neste flight temos dois Premier Cru classicamente com nível de Grand Cru. Historicamente são vinhedos de grande reputação, os quais talvez numa nova classificação, fossem nomeados como Grand Cru. O Les Amoureses, sobretudo de Mugnier, é o mais delicado dos Borgonhas, caminhando numa linha tênue entre a elegância e a mediocridade. Explicando melhor, é um vinho muito delicado, onde só mesmo a força de seu terroir permite um diferencial de distinção e elegância. Qualquer outra tentativa na Borgonha, pareceria um vinho diluído e sem atrativos. Um vinho extremamente preciso em sua elaboração. A discussão acadêmica em torno de seu envelhecimento, sempre provoca a eterna dúvida: toma-lo jovem, aproveitando sua graciosidade de frutas e flores, ou envelhece-lo com os inevitáveis toques terciários?
Partindo agora para o grande Musigny, este um autêntico Grand Cru, é um vinhedo colado ao Les Amoureses, num setor mais alto e de solo menos pedregoso. Este exemplar 2012 tem notas variando entre 95 e 98 pontos. Completamente diferente do Les Amoureses, o vinho tem densidade sedosa, sem perder a elegância. Numa comparação com o Médoc, seria o Chateau Margaux da Borgonha. Um vinho de extrema elegância e profundidade, onde os aromas de violeta, frutas escuras, e um toque carnoso, se completam perfeitamente. Gostaria de prova-lo lado a lado com um La Tache de mesma safra, outro vinho de predicados semelhantes.
Rosseau: a maior parcela
No último vinho do flight, o vinhedo Clos St-Jacques, foto acima, é dividido em cinco parcelas, cuja a maior porção pertence a Armand Rousseau com 2,2 hectares. No exemplar acima da safra 2015, é um vinho de grande concentração com um poder de fruta extraordinário. Ainda muito jovem, tem aromas basicamente primários com taninos de fina textura. Uma grande promessa para as próximas décadas. Seu apogeu está prevista para 2050. Por hora, perder para o Musigny, num embate de gigantes.
Enfim, uma prova exemplar de grandes produtores das comunas de Chambolle-Musigny e Gevrey-Chambertin em seus mais afamados terroirs. Além disso, a constatação que o nome Leroy, seja como Négociant, seja como Domaine, transita com competência e regularidade por todos os atalhos do intrincado mosaico bourguignon.
Agradecimentos eternos a nosso Presidente pela imensa generosidade e competência nas escolhas das mais sofisticadas ampolas. Saúde a todos, e que Bacco nos proteja!
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