Com o final do ano se aproximando, a procura e o interesse pelos espumantes aumentam, especialmente o champagne. O mais sofisticado entre os espumantes vem de uma região demarcada a nordeste de Paris, com clima e solo únicos, além de um preciso método de elaboração. Um dos mais importantes itens em todo este processo é sem dúvida nenhuma o assemblage (mistura dos vários vinhos-bases), para criar uma cuvée que será espumatizada.
Nariz de perfumista buscando a perfeição
O assemblage na região de Champagne talvez seja o mais complexo no mundo dos vinhos. Os vinhedos são muito fragmentados (mais de 240.000 parcelas para 19.000 proprietários, entre alguns grandes e muitos pequenos).
Cada parcela em champagne é vinificada separadamente, dando origem a vários vinhos-bases de diferentes uvas, idade de vinhas, terroirs diversos (313 villages), a cada safra. Portanto, uma determinada Maison terá a seguinte tarefa pela frente a cada ano:
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vinhos-bases varietais com Chardonnay, Pinot Noir e Pinot Meunier de acordo com o número de parcelas da Maison (vinhedos próprios e vinhedos terceirizados).
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vinhos de reserva que foram guardados de outros anos, obedecendo o mesmo critério acima a cada safra. Em Champagne é necessário guardar vinhos nas grandes safras para compensar os anos não tão bons. A média dos grandes anos é de dois ou três a cada década.
Em média, uma Maison trabalha com 40 a 60 amostras de vinhos-bases a cada ano para montar a cuvée brut da casa, que deve obedecer o gosto e o estilo da mesma. Começamos então a entender, a complexidade e o tamanho do problema.
Os profissionais desta nobre arte podem não saber degustar outros vinhos, mas com certeza champagne eles degustam como ninguém, procurando defeitos e pequenos detalhes que só um perfumista detectaria.
Várias simulações são propostas, sendo todas cuidadosamente anotadas, medidas proporcionalmente em provetas e devidamente, analisadas e degustadas.
Baseados no estoque de vins de réserve da cada Maison, na quantidade e qualidade da safra do ano em questão, eles precisam proporcionar os vários vinhos-bases separados por uvas, vinhedos e safras, que são normalmente muito desagradáveis. Lembrem-se que para um bom espumante é preciso de um vinho-base muito ácido e pouco alcoólico.
O pulo do gato é a sensibilidade da equipe de degustadores em encontrar a mistura adequada deste vinhos brutos que depois de espumatizados, depois de passarem um tempo relativamente longo sur lies (a autólise das leveduras proporciona novos aromas ao champagne), ao serem abertos e degustados pelos consumidores, eles possam dizer: este é um Krug, este é um Bollinger, este é um Pol Roger, e assim por diante.
Portanto, na hora de comprar seu champagne, pense nisso. Apesar do preço, e no Brasil é realmente abusivo, existem terroir, sofisticação e arte nesta garrafa, como em nenhum outro tipo de vinho. Champagne é indiscutivelmente, o rei dos espumantes!
Etiquetas: assemblage, bollinger, champagne, chardonnay, cuvée, Krug, Nelson Luiz Pereira, pinot meunier, pinot noir, pol roger, sommelier, sur lies, tudo e nada, vinho sem segredo, vins de réserve
21 de Novembro de 2010 às 10:27 AM |
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23 de Novembro de 2010 às 11:47 AM |
Como acabou de falar sobre a arte da assemblage, gostaria de ler um post sobre o uso de madeira nas champagnes. Pelo que li a Krug, que é um borgonha com borbulhas de altíssimo nível, é totalmente fermentada em pièces de 205 litros que têm alguma idade. Bollinger também é outra das que usam madeira na fermentação. Interessante que essas duas são as que mais me agradam ao paladar. Essa é uma prática comum? Quem mais faz?
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23 de Novembro de 2010 às 12:39 PM |
Caro Roberto,
Esta é uma boa dica para um futuro post.
Um abraço,
Nelson
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