Um comentário numa revista de enogastronomia de grande circulação chamou-me a atenção sobre o Chateau Palmer 2002. Segundo a revista, este foi um dos cem melhores vinhos degustados em 2010, tendo ficado na terceira colocação. O comentário sucinto diz o seguinte:
“Um grande francês clarificado com claras de ovos e que não passa por filtração”
Indignado, acho que o Chateau Palmer no mínimo, merece um post para aqueles que só tiveram a oportunidade de conhecê-lo através deste brilhante comentário.
Muita semelhança arquitetônica com o Chateau Pichon Baron
Chateau Palmer, troisième Grand Cru Classé de Bordeaux (classificação de 1855), é considerado quase como uma unanimidade, o segundo melhor vinho da comuna de Margaux (situada no Médoc, margem esquerda), depois evidentemente do grande Chateau Margaux.
Finesse ou elegância são as palavras de ordem para esta comuna, personificadas no Chateau Palmer. O solo típico dos grandes vinhedos do Médoc originam-se nas croupes (pequenas elevações ou ondulações de terreno pedregoso). O plantio da Cabernet Sauvignon apresenta leve predominância em relação à Merlot, complementadas por pequenas parcelas de Petit Verdot. Na badalada safra 2009 o corte foi de 52% Cabernet Sauvignon, 41% Merlot e 7% Petit Verdot.
A elevada densidade de plantio (10.000 pés por hectare) aliada à idade das vinhas, aprofundam suas raízes, gerando uvas de grande concentração e muita personalidade.
Os 55 hectares da propriedade são repartidos em 42 parcelas. Cada parcela é vinificada separadamente, gerando vários tanques de fermentação de Cabernet Sauvignon, Merlot e Petit Verdot. Terminada toda a vinificação, chega o grande momento do assemblage. Olhos atentos, narizes afiados e paladares rigorosos entram em ação para conceber o chamado “Grand Vin”. Tudo que foi rejeitado, ficará para a seleção do chamado segundo vinho (assunto já tratado separadamente em artigo passado), no caso, Alter Ego.
Concebido o Grand Vin, é hora de educá-lo, refiná-lo, através do amadurecimento em barricas de carvalho. Aqui, mais uma lição de consciência e humildade, sempre buscando um vinho equilibrado e harmonioso. Portanto, dependendo da safra, a proporção de barricas novas fica entre 50 e 60%, de acordo com o extrato do vinho, mantendo em primeiro lugar sua essência.
Palmer 2002: 94 pontos de Parker
Este é o Chateau Palmer, um Margaux de raça, equilibrado, estruturado, capaz de envelhercer por longos anos nas boas safras. Muito bem avaliado nas principais revistas especializadas.
A colagem, operação que visa dar maior limpidez ao vinho, de fato, é feita com claras do ovos levemento batidas, mas isso não é um privilégio do Palmer. Voltando ao comentário, faltou dar a receita: seis claras por barrica.
Etiquetas: alter ego, bordeaux, chateau palmer, classificação 1855, grand cru classé, margaux, medoc, Nelson Luiz Pereira, sommelier, tudo e nada, vinho sem segredo
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