Bordeaux: Parte IV


 

 

 

 Margem Direita

  

Mais uma expressão clássica: vinhos da margem direita. Pelo mapa acima, percebemos que a referência é a margem direita do rio Dordogne, sendo as apelações de Pomerol e Saint-Emilion seus grandes expoentes. As apelações satélites que rodeiam essas famosas regiões também fazem parte da margem direita. A rigor, até as apelações Côtes de Blaye e Côtes de Bourg que não aparecem no mapa  por estarem na margem direita do Gironde, devem também ser incluídas.

Tudo muda aqui em relação ao Médoc em termos de solo e composição de uvas. A argila predomina nesta área, notadamente em Pomerol, o que favorece o bom desempenho da Merlot. Em algumas áreas onde destaca-se também o cascalho, a Cabernet Franc entra em ação. Portanto, são essas duas uvas,  com a Cabernet Franc complementando a Merlot, que  norteiam o chamado corte bordalês, deixando muito pouco espaço para a Cabernet Sauvignon.

Pomerol

Berço espiritual da Merlot com o mítico Château Petrus reinando absoluto. Não há uma classificação oficial, mas todos sabem que o grande Petrus é hors concours, seguido por uma dezena de excelentes opções.

Se dinheiro não for problema, Petrus e Le Pin são as estrelas da região. Como viraram grifes, os preços vão às alturas, embora sejam vinhos diferenciados. Baseado na Merlot em solos argilosos, os rendimentos por parreira são baixíssimos, além de um belo estágio em barricas novas de carvalho. Os demais châteaux que são para mortais seguem descritos abaixo e podem surpreender os mais exigentes paladares.

Château Lafleur e Château Trotanoy são opções quase unânimes para as estrelas acima, com muito requinte e personalidade. La Conseillante, L´Evangile e Petit- Village são também pedidas encantadoras. Vieux-Château-Certan, do mesmo proprietário do Le Pin, apesar de suntuoso, segue um estilo mais medoquino, mais austero, com menor porporção de Merlot e presença de Cabernet Sauvignon.

Em resumo, os vinhos de Pomerol são adoráveis, macios e com frutas exuberantes, porém muito caros. A região é minúscula com menos de 800 hectares, ou seja, um quadrado de menos de 3 km de lado. Resultado: baixa produção para uma demanda enorme.

Saint-Emilon

Comparada a Pomerol, esta apelação é bem maior (cerca de 5400 hectares) com solos extremamente complexos e diferenciados. Para não complicar muito, podemos dizer que os solos mais arenosos e os solos dos vales, próximos ao Dordogne dão origem a vinhos pouco expressivos. Os grandes vinhos  estão em torno da cidade de St Emilion nas chamadas Côtes (encostas), bem como, nos solos de cascalho (graves) nas proximidades de Pomerol.

A classificação oficial dos vinhos de Saint-Emilion passa por um momento conturbado. Iniciada em 1955 foi prevista uma revisão de 10 em 10 anos, sendo a úlitma em 2006, extremamente polêmica, diga-se de passagem. Esta classificação apresenta três níveis de hierarquia:

  • Premiers Grands Crus Classés A: Châtau Ausone e Château Cheval Blanc
  • Premiers Grands Crus Classés B: com treze châteaux
  • Grands Crus Classés: com cinquenta e três  châteaux

Neste último nível, a expressão Grands Crus Classés não tem nem de longe o peso que tem para os Grands Crus da Borgonha. São vinhos relativamente simples com raríssimas exceções. 

Falar dos châteaux classe A é chover no molhado. Seu único defeito é o preço. Château Ausone é um vinhedo quase dentro da cidade de St Emilon num solo extremamente calcário. É um vinho difícil, principalmente quando jovem. Revela-se aos poucos e exige paciência e experiência de quem o possui.

Já Cheval Blanc é totalmente oposto. De solo pedregoso, próximo a Pomerol, origina vinhos elegantes e extremamente receptivos, mesmo quando jovens. A Cabernet Franc tem participação marcante, sendo muitas vezes majoritária. É um vinho de sonhos com a safra de 1947 transformada no maior mito entre os grandes de Bordeaux. Château Figeac, da mesma região, é muito interessante, mas evidentemente, sem o mesmo brilho e glamour.

Os châteaux do grupo B são as grandes pedidas sem gastar uma fortuna. Château Canon, Pavie, Angelus, Magdelaine  e La Gafferière são  grandes experiências para sentir o terroir de Saint Emilion.

Satélites de St Emilion e Pomerol

Lalande de Pomerol, Montagne-St-Emilion, St-Georges-St-Emilion, Lussac-St-Emilion, Puisseguin-St-Emilion, Fronsac e Canon-Fronsac São apelações que circundam os grandes astros (Pomerol e St Emilion). São vinhos não tão complexos, mas podem ser interessantes, a medida em que o produtor possa exprimir com fidelidade seu respectivo terroir. Infelizmente, a oferta destes vinhos no Brasil é escassa. Vieux Château Saint-André, Château Les Hauts Conseillants e Château Fontenil são boas opções.

Vins de Garage

Tradição e notoriedade têm seus efeitos colaterais em Bordeaux. A Rigidez e inflexibilidade das classificações não dão margem a novos châteaux. Foi desta revolta que surgiram os garagistas nas regiões de Pomerol e St Emilion. São vinhedos minúsculos com uvas vinificadas em espaço reduzido (num cômodo como uma garagem). Os vinhos são concentrados, bastante extraídos e com passagem obrigatória por barricas novas, às vezes 200% em carvalho. É quando você passa um vinho no primeiro ano em barrica nova e no segundo ano você troca novamente a barrica por outra nova. Em resumo, são vinhos parkerizados, extremamente concentrados e acarvalhados. Muitos consideram o Le Pin como precursor desta categoria, mas pessoalmente considero um exagero. Os châteaux Valandraud e Le Dôme resumem melhor este conceito. São vinhos caros, pontuados e de prestígio. Enfim, conseguiram seu objetivo, mas altamente polêmicos quanto ao terroir.

Em resumo, os vinhos de St Emilion não apresentam um estilo bem definido. Ora são mais frutados e abertos tendendo a Pomerol, ora são mais austeros e fechados tendendo ao Médoc, sem falar nos garagistas que costumam anabolizar seus vinhos, tornando-os verdadeiros blockbusters.

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