Bordeaux: Parte III


Região de Graves

Completando a chamada margem esquerda abordada no último post, detalharemos a seguir a região de Graves, a qual começa a sul das imediações da cidade de Bordeaux, percorrendo toda a margem esquerda do Garonne até a cidade de Langon. É uma vasta região com brancos e tintos interessantes.  Dentro desta área estão duas apelações muito famosas: Pessac-Léognan a norte e Sauternes a sul.

Podemos dizer que Pessac-Léognan é o filé mignon deste pedaço, englobando os melhores brancos e tintos, inclusive o majestoso Château Haut-Brion. Esta apelação relativamente nova data de 1987. Até então, todos os vinhos eram engarrafados sob a apelação Graves, esclarecendo possíveis confusões com châteaux mais antigos.

Aqui nos deparamos com outra importante e antiga  classificação de Bordeaux denominada classificação de Graves, iniciada em 1953 e completada em 1959. Permanece imutável a exemplo da classificação de 1855. A lista completa com 16 châteaux entre tintos e brancos está no site www.bordeaux.com.  Só para ratificar, todos os châteaux classificados estão dentro da apelação Pessac-Léognan, confirmando seu terroir diferenciado.

Os tintos são moldados dentro do corte bordalês com leve predominância da Cabernet Sauvignon sobre a Merlot fugindo um pouco do estilo mais austero do Médoc. Um dos motivos é a composição do solo onde a proporção de areia é maior do que a argila, mantendo a presença de cascalho que dá nome à região (Graves). Portanto, os vinhos não são tão encorpados como no Médoc e costumam amadurecer mais cedo com uma mineralidade notável (um toque terroso).

Châteaux de destaque

Château Haut-Brion é a exceção  que ostenta as duas importantes classificações de Bordeaux, 1855 e a de Graves. A explicação por ser o único vinho fora do Médoc incluso em 1855 vem do fato de seu enorme prestígio na época e também ser o mais antigo dos grandes châteaux de Bordeaux. De fato, é soberbo. Muitas vezes acessível na juventude, mas com muita profundidade e sutileza, podendo envelhecer por décadas em grandes safras. Localiza-se em Pessac, praticamente dentro da cidade de Bordeaux.

Château La Mission Haut-Brion, vizinho e rival do grande Haut-Brion, na verdade são parceiros desde 1983, pertencendo ao mesmo proprietário (família Dillon). Numa sintonia fina, podemos dizer com relação a seu parceiro que há uma certa exuberância e potência em detrimento à sutileza. Contudo, é igualmente magnífico. Isso é o que podemos chamar de concorrência em alto nível.

Se você não quiser correr riscos para os grandes tintos de Pessac-Léognan além dos dois rivais acima, a opção mais segura é o Château Pape-Clément. Não tão caro como os dois acima, mas igualmente consistente. Elegante e sutil, suas notas terrosas vão se misturando a tabaco na evolução em garrafa, sugerindo alta gastronomia baseada em cogumelos e trufas.

Para os outros châteaux classificados sempre corre-se um certo risco em termos de tintos. Além dos classificados, Pessac-Léognan pode oferecer boas ofertas como o Chãteau de France e mesmo a vasta região de Graves tem bons vinhos para o dia a dia como o Château Cantegril. É uma questão de pesquisar o produtor.

Encerrando os tintos, passemos aos brancos com alguns tesouros esquecidos. Dentre os classificados, novamente a mesma parceria de tintos transfere-se para os brancos, ou seja,  Château Haut-Brion branco e Château Laville-Haut-Brion (o grande branco do La Mission). Qualquer um dos dois são espetaculares e envelhecem muito bem.

Se você não quiser gastar uma fortuna, há ótimas opções dentre os classificados. Os châteaux mencionados a seguir são mais uma questão de gosto, sem nenhuma ordem hierárquica: Domaine de Chevalier (denso e complexo), Château Carbonnieux (muito delicado e elegante), Château de Fieuzal, Château Olivier e Château Smith-Haut-Lafitte.

Fora dos classificados, tanto Pessac-Léognan como Graves, oferecem boas opções mais frugais. Château Reynon, Château Haut-Bergey e Clos Floridène são pedidas seguras.

Por úlitmo, cabe esclarecer que os brancos secos de Bordeaux são baseados principalmente na Sémillon e Sauvignon Blanc. Enquanto a Sémillon aporta estrutura, corpo e profundidade, a Sauvignon Blanc fornece acidez, frescor e leveza. Pode haver uma pitada neste blend de uma terceira uva chamada Muscadelle, que fornece notas florais e certa graciosidade ao conjunto.

Com isso, encerramos os grandes brancos secos de Bordeaux. A região de Sauternes e suas imediações ficarão para o post dos grandes doces de Bordeaux.

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