Os nobres châteaux, Cheval Blanc e Ausone, desde sempre foram considerados Classe A na tradicional apelação Saint-Émilion, margem direita dos bordaleses. Recentemente, juntaram-se aos mesmos, Château Pavie e Château Ângelus. Voltando aos dois astros, vamos falar um pouco de seu terroir e consequentemente suas respectivas expressões nos vinhos engarrafados com o lento envelhecimento em adega. Só para situarmos os châteaux, segue o mapa abaixo.
Terroirs diferentes
Pelo mapa acima, observamos que Cheval Blanc situa-se nos chamados vinhedos de planalto, bem próximos a Pomerol, e de solos pedregosos, misturados a argila e areia. Já Ausone, encontra-se nas chamadas Côtes, declives relativamente acentuados nos arredores da cidade de Saint-Émilion, de solos com forte presença do calcário, em meio argiloso. Contudo, as proporções entre Cabernet Franc e Merlot são semelhantes, mas com propostas diferentes quanto ao estilo de vinho.
Cheval Blanc
São aproximadamente 37 hectares de vinhas divididas em três tipos de solo. 40% deles são provenientes de pedras em meio à argila. Outros 40% são solos também pedregosos misturados à argila e areira com traços de ferro. Os 20% restantes são solos com predomínio de areia, misturados com argila e ferro. O vinhedo é plantado com 58% de Cabernet Franc e 48% Merlot. A idade média das vinhas alcançam 45 anos, sendo algumas centenárias. A densidade do vinhedo gira em torno de oito mil pés por hectare. Todo o vinhedo é dividido em 45 parcelas com micro-terroir próprio e são colhidas e vinificadas separadamente. O vinho em média é amadurecido em carvalho novo (100%) por dezoito meses.
Graves: solos pedregosos
Muitas das safras são altamente pontuadas, sendo o Cheval Blanc 1947 considerado por críticos e especialistas experimentados, como um dos grandes Bordeaux de todos os tempos. O estilo Cheval costuma ser abordável mesmo quando jovem. Apesar de sua incrível capacidade de envelhecimento, seus aromas primários imersos em madeira elegante agrada em cheio mesmo degustadores principiantes. Em termos de solo, a pedregosidade do terreno e alguns traços arenosos conferem ao vinho uma certa leveza, uma certa elegância. A presença de ferro em boa parte do terreno costuma concentrar e conservar sua cor ao longo do envelhecimento em garrafa. A boa micro-oxigenação com madeira nova aporta aromas elegantes e de grande complexidade.
Château Ausone
Propriedade bem menor que seu rival com apenas sete hectares de vinhas muito antigas. Em média 50 anos, mas com algumas centenárias. Densidade de plantio, de seis a doze mil pés por hectare. O terroir divide-se em duas partes principais: um hectare e meio junto ao château, na parte mais alta, de solo argilo-calcário e com presença de pedras calcárias (à astéries). Os outros 5,5 hectares são argilo-calcários e um pouco de areia, com certa declividade (15 a 20% de declive). O plantio entre as castas segue praticamente o mesmo do Cheval Blanc, 55% Cabernet Franc e 45% Merlot. A vinificação dá-se em seis cubas de madeira, as quais recebem parcelas setorizadas do vinhedo. O vinho amadurece em carvalho novo, praticamente 100%, dependendo da safra. O tempo em barricas pode chegar a 24 meses, de acordo com a potência do vinho.
Ausone: Calcário em destaque
As distintas características de solos e declividades entre os rivais, explica em parte o estilo distinto dos vinhos. Sobretudo a Cabernet Franc em solos com predominância calcária, caso do Ausone, vai gerar vinhos mais austeros e com maior acidez. A parte do vinhedo com predomínio da argila, proporciona solos mais frios, bem ao gosto da Merlot. Portanto, Ausone mostra vinhos mais austeros na juventude, com fruta mais contida e uma destacada mineralidade. Só o longo tempo em garrafa é capaz de revelar todos seus segredos. Em contrapartida, os solos pedregosos e mais secos encontrados no Cheval Blanc favorece na maioria dos anos uma maturação mais adequada para a Cabernet Franc, gerando vinhos mais abertos e prazerosos, com mais poder de fruta. Esses são os principais motivos para uma maior inclinação pelo Cheval Blanc, principalmente em safras mais recentes, mais jovens.
Painel: safras 82, 86, 90, 98 e 2000
Em recente painel, foram degustadas as safras acima com preferência ampla para o Cheval Blanc, por tudo que já foi exposto. 82 e 90 são safras excepcionais do Cheval, onde os vinhos mostram-se opulentos, ricos em fruta e com poder de guarda, sobretudo o 1990, com pelo menos mais dez anos de guarda. A safra 86 foi o ponto fraco do painel. Uma safra de difícil maturação das uvas, gerando vinhos com taninos um pouco agressivos, de difícil polimerização. Já as safras de 1998 e 2000 fecharam a degustação com chave de ouro para ambos os vinhos. Logicamente, pequenos infanticídios, mas os vinhos prometem um grande futuro. Ricos, com taninos bem delineados e muito bem equilibrados. Os aromas mais citados nesses grandes clássicos são os ligados à torrefação (café, chocolate), traços de tabaco, especiarias, grande pureza da fruta, e tal mineralidade (um toque terroso), sobretudo no Ausone.
Etiquetas: ausone, bordeaux, cabernet franc, côtes, cheval blanc, grand cru classé, merlot, Nelson Luiz Pereira, saint-emilion, sommelier, terroir, vinho sem segredo
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