Degustar vinhos é a principal atividade de um enófilo de carteirinha. Sendo assim, as degustações espalham-se ao longo de todo o ano, através de importadoras, lojas especializadas, restaurantes, eventos dirigidos, associações e confrarias. Uma das mais badaladas é a chamada Degustação Vertical, que nada mais é do que provar um mesmo vinho em várias safras diferentes. O glamour de uma vertical está associada ao calibre do vinho. Ninguém faz uma vertical séria com vinhos comuns, pois os mesmos não apresentam condições estruturais para um bom envelhecimento.
Safras enfileiradas de um mesmo vinho
Neste sentido, a responsabilidade da ordem dos vinhos aumenta de acordo com a importância do vinho degustado. A idéia é sempre não ofuscar o vinho seguinte da sequência, respeitando as características intrínsecas às safras. O comodismo de degustar em ordem cronológica crescente ou decrescente e mesmo até às cegas, formando uma sequência aleatória, pode comprometer seriamente a degustação, penalizando vinhos elegantes e delicados, sobretudo.
Para evitar estas situações, é necessário um conhecimento prévio e histórico do vinho em questão e as características principais e particularidades de cada safra. Nos grandes vinhos é comum termos safras mais potentes, diferenciadas, apesar da idade dos mesmos. A precocidade de algumas safras é um fator extremamente importante na ordem dos vinhos. A estrutura tânica, bem como a característica de latência de determinadas safras, apontam para uma decantação mais prolongada afim de avaliarmos melhor o vinho, mesmo ainda não atingindo seu platô ideal.
Como exemplo, vamos pensar numa degustação vertical de um grande Château de Bordeaux entre as safras de 1976 e 1985. São vinhos antigos, evoluídos, com mais de 30 anos. Salvo alguma particularidade de alguns châteaux específicos, vamos tentar montar uma sequência lógica entre as safras. Sabemos que 76, 77, 79, 80 e 84 não foram grandes safras. Portanto, estes vinhos devem estar decadentes, ou extremamente evoluídos e frágeis. As safras de 78, 81 e 83 foram relativamente boas, mas sem o brilho dos anos míticos. Já as safras de 85 e principalmente 82 foram acima da média, com alguns vinhos espetaculares. Portanto, para que possamos usufruir e valorizar todos os detalhes e nuances de cada safra, respeitando suas peculiaridades, poderíamos começar com o primeiro grupo de vinhos bem delicados, seguido pelas safras de 78, 81 e 83, com um pouco mais de extrato e riqueza aromática, culminado com as safras de 85 e 82 nesta sequência. Apesar de 82 ser uma safra mais antiga, sua riqueza e singularidade sobrepujam até mesmo o belo ano de 85.
Em resumo, o importante é proporcionarmos condições ideais de uma degustação em conjunto, sem que qualquer uma das safras seja prejudicada sensorialmente, em detrimento de uma sequência mal elaborada. É como se você pudesse degustar cada safra isoladamente, tendo as mesmas sensações ou impressões de degustá-la numa sequência, ou seja, sem interferências dos vinhos antecedentes.
Etiquetas: análise sensorial, bordeaux, degustação vertical, Nelson Luiz Pereira, sommelier, tudo e nada, vinho sem segredo
28 de Agosto de 2012 às 2:24 AM |
[…] original: Degustação Vertical: Critérios de vinhosemsegredo publicado [dia August 27, 2012 at 03:00PM] em Vinho Sem Segredo. Republicado por […]
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