A faixa que beira a margem esquerda do Gironde desde o norte da cidade de Bordeaux até seu estuário no Atlântico, tem solos e topografia diversos, capazes de moldar belos vinhos. Este terroir é conhecido como Médoc, região fundamentalmente de tintos. Aliás, dos tintos que fazem a fama de Bordeaux, uma espécie de Côte de Nuits, se compararmos com a Borgonha.
A produção do Médoc é bastante modesta tendo em vista o mar de vinhos que Bordeaux produz como um todo. Estamos falando de apenas 15 mil hectares de vinhas, cerca de pouco mais de dez por cento de toda a região bordalesa. Podemos separar esses vinhos em três níveis de prestígio e qualidade.
Tintos do Médoc (www.medoc-bordeaux.com)
Composto por oito sub-regiões, o Médoc propriamente dito é a parte menos prestigiada bem ao norte da região. Basicamente, seu solo é mais argiloso, dificultando a boa drenagem , fator primordial no terroir bordalês de margem esquerda. Mesmo assim Chateaux como Potensac e Latour de By são bastante consistentes.
Por hierarquia, as quatro comunas: St-Estèphe, Pauillac, St-Julien e Margaux, são as mais prestigiadas, abrigando os 60 Grands Crus Classés classificados em 1855. Neste microterroir temos as melhores drenagens de terreno com cascalho abundante nas principais croupes (pequenas ondulações na topografia). Seguindo a escala, as comunas de Moulis e Listrac-Médoc estão num nível abaixo. Tem boa localização e drenagem para vinhos de certo destaque como os Chateaux: Chasse Spleen, Poujeaux, Clarke e Fourcas-Hosten. O restante, contornando essas principais comunas, temos a sub-região conhecida como Haut-Médoc. Mais consistente que a sub-região Médoc, mas ainda assim com grande diversidade na excelência dos fatores de terroir. Podemos citar com segurança alguns Chateaux como: La Lagune, Cantermele, Camensac, D´Agassac, e o confiável Sociando-Mallet.
Chateau Sociando-Mallet
ondulações no terreno (croupes)
subsolo pedregoso de excelente drenagem
Para reger essas comunas temos como parâmetro a imutável classificação de 1855 e os chamados Crus Bourgeois, classificação consistente até 2003 onde a partir desta data, tivemos mais confusões do que consenso. Enfim, seguem os sites destas duas categorias:
http://www.grand-cru-classe.com (atualmente em manutenção)
Dados comparativos
Os Crus Bourgeois perfazem de 250 a 270 Chateaux todos os anos, dependendo do ano específico. Isso dá um total aproximado de 30 milhões de garrafas por safra. São aproximadamente cinco mil hectares de vinhas, respondendo por um terço da produção do Médoc. As sub-regiões do Médoc e Haut-Médoc ficam com 90% desta produção, restando 10% para as demais comunas. Em resumo, é uma categoria de vinho que procura valorizar o Médoc em sua essência, já que as comunas mais famosas têm vida própria.
A sub-região do Médoc, porção bem a norte da região, é responsável por um terço da produção de todo o Médoc, contando com forte prestígio dos Crus Bourgeois, pois não há nenhum Grand Cru Classé na região. Os preços podem ser um grande atrativo.
Praticamente, a mesma história se repete com a sub-região do Haut-Médoc em termos de números e proporção de Crus Bourgeois. Aqui já temos cinco Grands Crus Classés fazendo parte dos Chateaux.
Partindo agora para as comunas, temos:
Margaux – 1500 hectares – 9 milhões de garrafas – 21 Grands Crus Classés
St-Julien – 900 hectares – 6 milhões de garrafas – 11 Grands Crus Classés
Pauillac – 1200 hectares – 7 milhões de garrafas – 18 Grands Crus Classés
St-Estèphe – 1200 hectares – 8 milhões de garrafas – 5 Grands Crus Classés
Moulis – 600 hectares – 4 milhões de garrafas – 15 Crus Bourgeois
Listrac-Médoc – 800 hectares – 2,5 milhões de garrafas – 14 Crus Bourgeois
Em resumo, as comunas respondem por um pouco mais de um terço da produção do Médoc com forte participação dos Grands Crus Classés, aumentando sobremaneira o nível de qualidade e consequentemente, os preços.
Quanto aos Grands Crus Classés especificamente, os 60 Chateaux representam em torno de 10% da produção de todo o Médoc, cerca de 10 milhões de garrafas, tendo forte participação nos vinhos das quatro principais comunas citadas acima.
Portanto, nos três níveis dos vinhos do Médoc num universo de 100 milhões de garrafas, 10% correspondem aos Grands Crus Classés, a elite dos vinhos. Pouco mais de 30 milhões de garrafas correspondem aos Crus Bourgeois, vinhos de bons preços se bem escolhidos. E finalmente, mais da metade de chateaux mais comuns, sem grande expressão, mas ainda assim, com boas surpresas se bem garimpados.
Para tanto, é bom prestar atenção aos rótulos. A apelação Médoc é a de maior risco, onde é preciso conhecer bem o chateau em questão. Já a apelação Haut-Médoc é mais segura, sobretudo se for uma grande safra. Já a menção “Grand Cru Classe” acompanhada das apelações St-Estèphe, St-Julien, Pauillac, ou Margaux, é bem mais segura, embora não sem riscos. Peculiaridades de safra e fase do chateau que pode variar ao longo da história, são detalhes a serem considerados.
Etiquetas: bordeaux, cru bourgeois, grand cru classé, haut medoc, medoc, Nelson Luiz Pereira, pauillac, sociando mallet, sommelier, terroir, vinho sem segredo
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