A Espanha é o maior produtor mundial de presunto cru, dividido basicamente em dois tipos: jamón serrano e jamón ibérico. Não é à toa que deixamos este país por último. A diferença entre o jamón serrano e o ibérico está fundamentalmente na raça dos porcos. Enquanto o serrano vem do chamado porco branco, o ibérico está ligado ao chamado porco preto, o mesmo que nos referimos quando falamos do Alentejo em Portugal. Além disso, os terroirs em termos de clima e solo são diferentes, além da alimentação que veremos a seguir.
Porco Preto ou Ibérico
Os porcos brancos que dão origem ao jamón serrano são alimentados à base de ração de cereais, enquanto os chamados porcos pretos podem ser alimentados também com ração, ou uma mistura de ração e bolotas (bellotas em espanhol), ou ainda somente de bolotas. Porém, todos os porcos pretos independentemente da alimentação, podem ter menção “pata negra”, embora o grande Pata Negra seja proveniente de raças puras de porcos ibéricos e são alimentados exclusivamente de bolotas. Aliás, quanto maior a porcentagem de bolotas na alimentação, melhor categoria será transferida ao jamón.
Noventa porcento da produção de jamón na Espanha é elaborada com o porco branco, dando origem ao jamón serrano, mais barato e de gosto um tanto padronizado. Conforme mapa acima, ele pode ser elaborado em qualquer parte da Espanha. Já o jamón ibérico apresenta terroir definido a sudoeste do país, fazendo divisa com Portugal, nas províncias de Salamanca, Caceres, Badajoz, Huelva e Córdoba, elaborado a partir do porco preto ou ibérico.
jamón serrano
Comparando as fotos acima e abaixo, percebemos algumas diferenças visuais, de textura e consequentemente de sabor, entre o jamón ibérico e serrano, complementadas pela tabela abaixo com indicadores importantes. Quanto maior a porcentagem de bolotas na alimentação do porco ibérico, mais acentuadas serão estas diferenças.
jamón ibérico
O potencial calórico do jamón ibérico é sensivelmente maior que o serrano por conta do nível de gordura do mesmo. Entretanto, esta gordura entremeada na carne é de alta qualidade com níveis consideráveis de ácido oléico, o mesmo ácido encontrado nos azeites extra-virgens. A menor porcentagem de sal no jamón ibérico nos dá uma sensação de doçura, reforçada pelo lado frutado proveniente da alimentação (bolotas). Por conta da gordura, a sensação de untuosidade do jamón ibérico é mais evidente, sugerindo vinhos de boa acidez. Seu sabor também é mais acentuado e persistente. Dentre os vários tipos de Jerez, um bom Amontillado é a medida certa para um autêntico jamón ibérico. Não é tão ligeiro quanto um Fino, e nem tão dominante quanto um Oloroso.
Para um jamón serrano, mais magro, menos intenso, mas com boa salinidade, um tinto de Rioja de estilo tradicional pode ser uma boa pedida. Tem acidez suficiente, tanicidade moderada e intensidade compatível com o presunto. Um Cava rosado é também uma opção interessante, principalmente quando degustado como aperitivo.
Dentre as várias denominações de origem do jamón ibérico temos Jamón de Huelva, Jamón de Guijuelo, Dehesa de Extremadura e Los Pedroches, cada qual com suas particularidades. Quanto à alimentação, temos a seguinte classificação: Jamón Ibérico de Cebo (cereais), Jamón Ibérico de Cebo Campo (cereais), Jamón Ibérico de Recebo (cereais e bellotas) e Jamón Ibérico de Bellota (alta porcentagem de bolotas).
Fugindo da padronização, temos duas denominações de origem distintas para o jamón serrano: Jamón de Teruel e Jamón de Trevélez (Granada), conforme indicação no mapa de províncias acima.
A foto abaixo denota um jamón ibérico de alta qualidade, com denominação de origem Dehesa de Extremadura e alimentação com as famosas bellotas.
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