Costumamos dizer que o tinto Casa Ferreirinha é o segundo vinho do mítico Barca Velha, obra prima do grande “cheirista” Fernando Nicolau de Almeida, logo após a segunda guerra mundial.
Aproveitando o ensejo do post anterior, é bom esclarecer que a conotação de segundo vinho neste caso, é bem diferente da situação bordalesa. O Reserva Ferreirinha dependendo do ano, pode disfarçar-se de um mini Barca Velha, obviamente de custo bem menor.
A longa trajetória do Barca passou por algumas transformações em vinhedos localizados no Douro Superior, notadamente Quinta da Leda e Quinta do Vale Meão. Contudo, sempre um propósito, selecionar lotes de qualidade e acompanhar sua evolução ao longo dos anos, até sua liberação ao mercado. A responsabilidade é tremenda, qualquer que seja a decisão, pois não se pode liberar um Barca Velha que não o é, e nem refutá-lo se realmente o for.
Obstinação de Fernando Nicolau de Almeida
A idéia de concepção do Barca Velha nasceu com o objetivo de elaborar um tinto de classe na região do Douro, onde até então, primava-se pela elaboração dos grandes Portos.
Alguns desafios deveriam ser vencidos, tais como: perfeito equilíbrio da uvas numa região tão quente e seca como o Douro Superior, com Quinta da Leda e Quinta do Vale Meão. Outro grande problema seria controlar a temperatura de fermentação com a tecnologia da época.
O primeiro obstáculo foi resolvido buscando uvas em várias altitudes e diferentes exposições com relação ao sol. Portanto, um leque interessante de opções, principalmente quanto à acidez das uvas. O segundo problema foi uma solução bem lusitana. Trazer caminhões carregados de blocos de gelo de Matosinhos (lugarejo próximo à cidade do Porto) até o Alto Douro, onde ocorria a fermentação. Foram feitos anéis periféricos nos grandes tanques de madeira da época para armazenar os blocos de gelo, controlando assim a temperatura de fermentação.
Após longa maceração, o vinho parte para o estágio em barricas de carvalho e começa um severo monitoramento até o engarrafamento. Passado este estágio, não se pode afirmar ainda que estamos diante de um Barca Velha. É preciso pelo menos alguns anos em garrafa com mais uma série de provas, para o veredito.
Safra 1997: quase 10 anos para uma tomada de decisão
Desta concepção rígida, beirando a perfeição, é que pode surgir o Casa Ferreirinha, ou seja, quando não se tem absoluta certeza do pedigree de um Barca, tem a possibilidade de surgir um Ferreirinha. Portanto, numa mesma safra, só existe um com a exclusão do outro. Este conceito dá credibilidade ao Barca Velha e ao mesmo tempo, valoriza sobremaneira o Casa Ferreirinha.
Portanto, para aqueles que não têm acesso ao Barca Velha, o tinto Casa Ferreirinha pode ser uma ótima opção. Atualmente, está a cargo do enólogo Luís Sottomayor e sua equipe, o destino dos futuros vinhos. Parece que a lição de seus antecessores, inclusive senhor Fernando, foi bem aprendida. Que esta filosofia em busca da perfeição e tipicidade perpetue por longa data!
Esses vinhos são importados pela Zahil (www.zahil.com.br).
Etiquetas: barca velha, casa ferreirinha, douro, fernando nicolau de almeida, luis sottomayor, Nelson Luiz Pereira, quinta da leda, sommelier, tudo e nada, vale meão, vinho sem segredo, zahil
16 de Julho de 2010 às 11:34 AM |
Eu me acho o incentivador desses dois posts sobre o Ferreirinha e sobre os segundos vinhos dos châteaux mais famosos do mundo. Minha ignorância sobre o tema é ampla, ainda mais sobre Bordeaux.
O conceito que ouvi uma vez numa inesquecível aula do curso avançado com o Fonseca foi que os segundos vinhos deveriam ser bem observados nas safras ditas históricas, porque nessas os preços dos mais famosos beiram à irracionalidade.
No mundo de hoje, comprar um Latour, um Margaux, um Lafite 2000, 2005, 2009 é coisa para milionário. É como adquirir um La Tâche ou um Romanée Conti.
Na Borgonha, o Clos de Tart, o maior monopole da região com 7,5 hectares, produz, na média, 25 mil garrafas por ano. Em anos médios ou inferiores, desclassifica as vinhas mais novas e produz o premier cru Forge de Tart, uma maneira de conhecer de modo mais acessível o irmão mais caro. (ou em safras ruins, vende para os negociantes do lado). Não se tem o mesmo cuidado que se tem no grand cru, mas é um vinho diferenciado em relação aos pares. O Forge 99 ainda está novo, começando a abrir os aromas secundários.
Quando eu olho um Carruades, olho um Forts, eu penso: esse vinho custa 10 vezes menos que o seu parente mais famoso; essa é uma oportunidade de eu conhecer o estilo do château histórico a um preço acessível.
Na sua opinião, só dois châteaux realmente valem à pena. Aí vêm duas perguntas. Primeira, mesmo nas safras ditas históricas, como 2000, 2005 e 2009, o Forts e o Clos de Marquis não são para envelhecer mais de dez anos?
Última pergunta: esses segundos vinhos dos premier grand cru classes não têm o mesmo nível de um sociando mallet, de um pichon baron e afins?
GostarGostar
16 de Julho de 2010 às 12:16 PM |
Caro Roberto,
O exemplo do Clos de Tart é semelhante ao do Barca Velha, onde um é a exclusão do outro e não o refugo. Aí você tem alta qualidade por um preço acessível.
O Les Forts de Latour e Clos du Marquis são exceções no mundo dos segundos de Bordeaux. Eu incluiria também o segundo vinho do Montrose (La Dame de Montrose). A dica do Fonseca continua válida e vai de encontro com o que falei no post.
Quanto à longevidade, para essas exceções em safras excepcionais, eles eventualmente podem ir além dos dez anos.
Quanto aos outros châteaux, dificilmente eles ganham a parada frente a um Sociando Mallet por exemplo. Daí a dica em procurar um bom cru classé de preço equivalente.
Um abraço,
Nelson
GostarGostar
17 de Julho de 2010 às 12:01 PM |
Eu escrevi apressadamente, mas só para esclarecer. Além de ser uma “assemblage” de seis parcelas do mesmo terroir, o Clos de Tart tem outra característica que lembra os Bordeaux: ele tem um segundo vinho mesmo, que é fabricado a partir das uvas de 25/30 anos. O grand cru é produzido todo o ano. O Forge – segundo vinho – é produzido também em quase todo o ano. Nos últimos 15 anos, em 2005 não foi vinificado o Forge, porque a qualidade excepcional da safra fez com que o Sylvain quisesse as vinhas mais jovens para tornar o grand cru mais acessível.
GostarGostar
18 de Julho de 2010 às 11:52 AM |
Fica esclarecida a questão. Mesmo tendo um segundo vinho, no caso da Borgonha, as dimensões do vinhedo, minimizam as diferenças.
GostarGostar
2 de Janeiro de 2011 às 11:16 AM |
[…] Barca Velha e seu segundo vinho Julho, 2010 4 comentários 4 […]
GostarGostar
5 de Janeiro de 2011 às 1:21 AM |
[…] Barca Velha e seu segundo vinho Julho, 2010 4 comentários 4 […]
GostarGostar
27 de Abril de 2011 às 12:53 PM |
Eu tenho uma coleçao grande e variada de Barca Velha a qual estou disponibilizando para venda, caso haja algum interesse favor entrar em contato em cesarfontes@live.com ou 21-84385604
cumprimentos
GostarGostar