O Brasil ainda é um país incipiente no mundo do vinho, quaisquer que sejam os números, parâmetros e índices. Não conseguimos fugir muito do consumo anual de dois litros per capita. Embora nosso progresso nos últimos anos seja inegável, o vinho brasileiro é proporcionalmente caro frente aos importados, notadamente, nossos vizinhos (Chile e Argentina).
No panorama atual, a situação tende a se agravar, já que o dólar encontra-se num consistente e gradual processo de queda. Para piorar, os impostos do vinho nacional tão reclamado por nossos produtores, como tudo no Brasil, tendem a aumentar.
Dados recentes fornecidos peal Uvibra (União Brasileira de Vitivinicultura) mostram números que muita gente não faz idéia:
Produção de uvas no Brasil em toneladas (dados de 2010)
Rio Grande do Sul ………………………………….. 692.692
São Paulo ……………………………………………. 177.538
Pernambuco ………………………………………… 168.225
Paraná ………………………………………………. 101.900
Bahia …………………………………………………. 78.283
Santa Catarina …………………………………….. 66.214
Minas Gerais …………………………………………. 10.590
Brasil ======================== 1.295.442
Neste total estão inclusas uvas viníferas e não viníferas, bem como, uvas destinadas à produção de vinhos, consumo in natura, suco de uva e derivados.
Deste mesmo total, 737.554 toneladas (57%) são destinadas ao consumo in natura, ou seja, uvas de mesa. Veja que o vinho no país da cerveja, já começa ficar em segundo plano.
Agora vamos falar de vinhos finos no Brasil. Fino na legislação brasileira, quer dizer que o vinho é elaborado com uvas viníferas, e não que ele seja elegante e de grande categoria. Pode até ser, mas não é essa a idéia.
Como o estado do Rio Grande do Sul responde por cerca de 90% da produção de vinhos e suco do uva do Brasil, segue abaixo um panorama da situação gaúcha em 2010 (produção em litros):
Vinhos de mesa …………………………………….. 195.267.979
Vinho fino ……………………………………………… 24.805.713
Suco de uva …………………………………………. 143.080.684
Portanto, ainda somos o país do suco de uva e do vinho de garrafão, ou seja, de uvas não viníferas.
A briga entre o vinho fino brasileiro e os importados continua bastante desigual em termos de consumo interno. Veja os dados de 2010 em litros:
Chile ……………………………………………………… 26.441.596
Argentina ………………………………………………. 16.965.446
Itália …………………………………………………….. 11.922.944
Portugal …………………………………………………… 8.001.006
França …………………………………………………….. 2.801.073
Espanha …………………………………………………… 1.622.322
Uruguai ……………………………………………………. 1.248.667
Outros países ……………………………………………. 2.006.783
Total de importados =================== 71.009.837
Os vinhos finos brasileiros participam com 20% do mercado, perfazendo um total de 18.288.055 litros. Somente Chile e Argentina respondem por cerca de 60% do nosso mercado de consumo.
Os números acima não levam em conta champagnes e espumantes. Neste cenário, o vinho nacional consegue inverter a situação com 75% do mercado em 2010 (em litros):
Espumantes brasileiros ………………………………. 12.573.114
Importados ……………………………………………….. 4.314.253
Esses números mostram a consolidação do espumante nacional em nosso mercado, com consistência de qualidade e preços relativamente competitivos. Além de nosso terroir ser propício a este tipo de vinho, nossas cantinas estão muito bem equipadas para elaboração de espumantes, sobretudo pelos métodos Charmat e do tipo Asti espumante com a uva Moscatel.
Se na cantina (vinificação) não devemos nada aos principais países vinícolas, no campo (viticultura) há um longo caminho a percorrer. Trocar o manejo do vinhedo de latada para espaldeira, visando um rendimento menor por hectare, menos chances de doenças e um amadurecimento da uvas mais eficiente, é um dos grandes desafios do setor. É uma mudança lenta, necessária e que ainda demorará algumas gerações.
Etiquetas: espumante nacional, Nelson Luiz Pereira, sommelier, suco de uva, tudo e nada, uvibra, vinho brasileiro, vinho de mesa, vinho fino, vinho importado, vinho sem segredo, vitivinicultura
28 de Abril de 2011 às 5:20 PM |
Teve uma recente degustação às cegas da Confraria dos Sommeliers sobre o tema Bourgogne tinto de até 300 reais. Enfiaram um intruso, brasileiro, da serra gaúcha, Tormentas Fúlvia Garage 2009, de Marco Daniele. Ganhou de todos, inclusive do Nuits Saint George 2007 de Henri Gouges, o domaine que há 90 anos começou a etiquetar seus rótulos com seu nome, coisa revolucionária na região. Degustação às cegas é sempre complicado, mas um Tormentas ganhar de um Gouges? o Brasil está crescendo ou os degustadores pegaram uma garrafa errada do homem certo e uma garrafa boa do homem errado?
GostarGostar
28 de Abril de 2011 às 5:40 PM |
Caro Roberto,
Degustação às cegas é sempre um tema complicado. O importante é analisarmos a coerência dos vinhos degustados e principalmente quem os julgaram.
Um abraço,
Nelson
GostarGostar
29 de Abril de 2011 às 12:00 PM |
Ah, sim, sem dúvida. Eu confio nessa última parte da equação citada por vc tanto quanto como confio em uísque paraguaio com 30 anos de blend escocês.
GostarGostar
22 de Maio de 2011 às 8:00 PM |
Olá Nelson
É sempre bom visitar o blog para nos atualizarmos, mas nesta questão de vitivinicultura brasileira, se considerássemos somente a região sudeste, para quanto este indicador subiria? Creio que há uma concentração grande principalmente em SP no consumo.
Grande abraço
Mauricio
GostarGostar
22 de Maio de 2011 às 10:43 PM |
Caro Maurício,
De fato, se setorizarmos o consumo, os Jardins em São Paulo tem padrão de consumo europeu.
Um abraço,
Nelson
GostarGostar