
Clos Vougeot produz resultados bastante desiguais, mas esse terroir entre Vosne e Chambolle tem alguns segredos. Um deles é que que os proprietários da chamada parte alta do vinhedo, com vizinhanças ilustres como Grands-Echezeaux e Musigny, levam vantagem nos fatores solos e exposição do terreno (drenagem e insolação). Isso somado a mãos habilidosas fazem com que Leroy, Méo Camuzet e Mugneret Gibourg (Grivot faz um muito bem) tenham resultados dignos de grand cru. Outro segredo é o premier cru Petit Vougeots, que fica pertinho do cobiçado Les Amoureuses, o mais reputado premier cru de Chambolle Musigny.


Nas mãos certas, Petits Vougeot produz um tinto que lembra ótimos chambolles. John Gilman considera-o um substituto dos cada vez mais incompraveis Amoureuses. A parcela de 0,52 hectare de Charles van Canyet foi plantada em 1980 e tem resultado ano após ano em um dos melhores qualidade preço da Cote de Nuits. Esse 2016 ainda tem muito chão pela frente, mas se destaca pelas frutas vermelhas, especiarias (não tão asiáticas como as que marcam os Vosnes) e um leve floral. Taninos ainda a se resolver nos próximos cinco anos. Um ótimo início de degustação.
Les Amoureuses, localizado logo abaixo de Musigny, tem um solo bastante pedregoso com boa proporção de calcário ativo. Um vinho de grande finesse, delicado ao extremo. Podemos dizer que sua delicadeza é tal que fica próxima a uma linha comum por sua suposta fragilidade. Contudo, é preciso prestar atenção, pois é uma delicadeza de profundidade e bela estrutura para envelhecer. Aqui a acidez, muito mais que seus delicados taninos, fornecem bons anos de vida em adega. Como classificação é um Premier Cru, mas com Cros Parantoux de Vosne Romanée, e Clos St Jacques do grande Rousseau em Chambertin forma a trilogia dos “falsos” Grands Crus. Nas mãos de Frederic Mugnier, que o considera a epítome da borgonha, nasce um vinho floral, elegante, com uma longa persistência. A safra 2013 está num bom momento. A pergunta é: beber na juventude ou nos terciários? A mim agrada o floral da adolescência.

Combe d’orveau ou Orveaux é um dos crus mais próximos de um dos mais cobiçados tintos do planeta: Musigny. Uma parte do vinhedo, pertencente à família jacques prieur, foi elevada à condição de grand cru em 1929. Essa parcela de Perrot Minot não teve a mesma benção, está encostada ao terroir de Prieur, ou seja, a mais colada a Musigny. Esse 2001 ainda está jovem, mas num belo ponto de consumo, com uma miscelânea entre florais, terrosos, fruta, em um conjunto de rara elegância e profundidade. Um grand cruzinho, hein, para se pôr no radar.
Ao término, tivemos a chambolle alemã: o Mosel, onde nascem os mais delicados rieslings, na interpretação de um de seus mestres. Egon Muller em um kabinett de livro, com toques de manga, mel, botrytis em um mineral elegante, nada invasivo.
Um jantar inesquecível que ainda contou com show ao vivo. Muito obrigado a João Ferraz, anfitrião de mão cheia, e a Marco deluigi.
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