Em foco: Château Cantemerle


Em 1855, Napoleão III resolveu mostrar ao mundo a pujança da França. Foi organizada uma feira mundial em Paris em que os franceses ostentariam seus principais trunfos. O mundo do vinho não foi esquecido. Surgiu daí a classificação de vinhos de Bordeaux, em foram avaliados os melhores vinhos do Médoc e os melhores doces da região de Sauternes. O ranqueamento foi baseado nas cotações de preços de décadas que os negociantes tinham dos vinhos. Terminaram o documento e enviaram para a Câmara de Comércio.

Em 18 de abril de 1855, um documento de três páginas foi afixado com a classificação dos vinhos, sendo o primeiro que encabeçava a lista o Château Lafite Rotchschild, no topo dos primeiros, enquanto o último, no quinto grupo, ou cinquièmes crus, era o Croizet Bages. Antes do término da página, há uma pequeno acréscimo feito de última hora à caneta tinteiro, com letra totalmente diferente da que tinha estabelecido os principais vinhos. Alguém tinha colocado a inclusão de mais um château com um asterisco: “Cantemerle, Mme Villeneuve-Durfort, Macau”. (Foi a primeira inclusão na polêmica classificação; a segunda foi o acréscimo de Mouton ao primeiro grupo em 1973).

Inclusão de última hora à caneta com letra diferente dos demais

O ingresso de última hora do Cantemerle não permitiu que a propriedade fizesse parte do mapa criado pelos organizadores da feira mundial para destacar os bordeaux mais prestigiados, muito menos foi o suficiente para o chateau aparecer no evento de maio de 1855.

De lá para cá, o Cantemerle assegurou um lugar entre os melhores vinhos da categoria qualidade preço entre os classificados em 1855 e nas últimas cinco décadas figuraria fácil como um vinho de terceiro grupo (3eme cru classé). Isso não são palavras minhas, mas de John Gilman, um dos melhores críticos de vinhos que o planeta tem. Gilman, que faz a newsletter trimestral View from the cellar – viewfromthecellar.com) tem elogios públicos sobre seu trabalho de alguns dos melhores viticultores do mundo: Frédéric Mugnier, Christophe Roumier, Egon Müller. Para Olivier Krug, Gilman é o nerd do mundo do vinho.

Há três meses, Gilman publicou um extenso e profundo artigo com mais de 50 páginas propondo sua reclassificação dos cinco grupos. Apesar de ter bebido grandiosos Moutons, como 1945, 1949, 1955, 1959,
1961, 1982 and 1985, que qualifica como alguns dos melhores Bordeaux que ele já bebeu, ele rebaixou chateau para o segundo grupo por achar que a regularidade de um premier grand cru classé não é atingida em todas as safras, mas muito mais presente nos grandes anos.

Fez rebaixamentos e adições e uma delas é particular a esse artigo: Cantemerle. “De 1955 até hoje, eles têm feito vinhos excepcionais e para meu paladar no nível dos vinhos de third growth”, escreveu. Isso fez com que fosse promovido ao terceiro grupo.

Abaixo, a classificação histórica e a de Gilman

Classificação de 1855

http://www.viewfromthecellar.com/

First Growths:
Château Haut-Brion
Château Lafite-Rothschild
Château Latour
Château Margaux
Château Mouton-Rothschild


Second Growths:
Château Brane-Cantenac
Château Cos d’Estournel
Château Ducru-Beaucaillou
Château Durfort-Vivens
Château Gruaud-Larose
Château Lascombes
Château Léoville-Barton
Château Léoville Las Cases
Château Léoville-Poyferré
Château Montrose
Château Pichon-Longueville-Baron
Château Pichon-Longueville Comtesse de Lalande
Château Rauzan-Gassies
Château Rauzan-Ségla

Third Growths:
Château Boyd-Cantenac
Château Calon-Ségur
Château Cantenac-Brown
Château Desmirail
Château Ferrière
Château Giscours
Château d’Issan
Château Kirwan
Château Lagrange
Château La Lagune
Château Langoa-Barton
Château Malescot-St. Exupéry
Château Marquis d’Alesme-Becker
Château Palmer

Fourth Growths:
Château Beychevelle
Château Branaire-Ducru
Château Duhart-Milon
Château Lafon-Rochet
Château Marquis-de-Terme
Château Pouget
Château Prieuré-Lichine
Château Saint-Pierre
Château Talbot
Château La Tour-Carnet

Fifth Growths:
Château d’Armailhac
Château Batailly
Château Belgrave
Château de Camensac
Château Cantemerle
Château Clerc-Milon
Château Cos-Labory
Château Croizet-Bages
Château Dauzac
Château Grand-Puy-Lacoste
Château Grand-Puy-Ducasse
Château Haut-Bages-Libéral
Château Haut-Batailly
Château Lynch-Bages
Château Lynch-Moussas
Château Pédesclaux
Château Pontet-Canet
Château du Tertre

Reclassificação proposta por John Gilman

First Growths:
Château Ducru-Beaucaillou
Château Haut-Brion
Château Lafite-Rothschild
Château Latour
Château Margaux
Château Pichon-Longueville Comtesse de Lalande

Second Growths:
Domaine de Chevalier
Château Gruaud-Larose 119
Château La Mission Haut-Brion
Château Montrose
Château Mouton-Rothschild
Château Palmer
Château Pichon-Longueville-Baron
Château Rauzan-Ségla

Third Growths:
Château Beychevelle
Château Calon-Ségur
Château Cantemerle
Château Cos d’Estournel
Château Haut-Bailly
Château Lagrange
Château La Lagune
Château Léoville-Barton
Château Léoville Las Cases
Château Léoville-Poyferré
Château Lynch-Bages
Château Pape-Clément

Fourth Growths:
Château Branaire-Ducru
Château Giscours
Château Grand-Puy-Lacoste
Château d’Issan
Château Prieuré-Lichine
Château Pontet-Canet
Château Rauzan-Gassies
Château Sociando-Mallet
Château Talbot

Fifth Growths:
Château d’Armailhac
Château Batailly
Château Brane-Cantenac
Château Chasse-Spleen
Château Clerc-Milon
Château Duhart-Milon
Château Haut-Bages-Libéral
Château Haut-Batailly
Château Haut-Marbuzet
Château Kirwan
Château Lafon-Rochet
Château Lascombes
Château La Louvière
Château Malescot-St. Exupéry
Château Marquis d’Alesme-Becker
Château Marquis-de-Terme
Château Poujeaux
Château Saint-Pierre
Château Smith Haut-Lafitte
Château La Tour-Martillac

De-Classified
Château Belgrave
Château Boyd-Cantenac
Château de Camensac
Château Cantenac-Brown
Château Croizet-Bages
Château Cos-Labory
Château Dauzac
Château Desmirail
Château Durfort-Vivens
Château Ferrière
Château Grand-Puy-Ducasse
Château Langoa-Barton
Château Lynch-Moussas
Château Pédesclaux
Château Pouget
Château du Tertre
Château La Tour-Carnet

A região de Macau, cujos solos têm algumas similaridades com o sul de Margaux, com algum cascalho e mais presença de areia, torna o vinho mais leve, com taninos mais suaves. A propriedade vinifica cerca de 600 mil garrafas em um ano, sendo que 70% se destina ao Cantemerle, com o restante para o segundo vinho “Les Allees de Cantemerle”.

O 2008, bebido recentemente, está em um ótimo ponto. Tem taninos finos, ótima persistência, já demonstra evolução nos aromas: um leve mineral se casa com tabaco e couro e um leve toque de café, com uma fruta negra ainda presente. Perfeito para um picadinho de carne. Esse foi um corte de 48% Cabernet Sauvignon 37% Merlot 8% Petit Verdot7% Cabernet Franc. Gilman deu 93 pontos para ele, Gilman não acha 2009 e 2010 safras tão boas quanto 2008, mais clássica para ele. O 2009 também está uma maravilha, prum dia de churrasco caprichado.

Um margem de esquerda de respeito e que não agride tanto o bolso em um tempo em que bordeaux de excelência abaixo de R$ 600 são cada vez mais difíceis de encontrar. Se um dia você vir um Cantemerle em promoção, não hesite. Se você o achar caro, a dica é o chateau magence (ele não está na lista de 1855, mas dá uma boa ideia do que é um elegante margem esquerda), na Delacroix, mas esse está esgotado.

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